WIGGINS: O PRAZER DO CICLISMO ESTÁ NA SIMPLICIDADE

Em entrevista ao The Telegraph, o sempre polêmico campeão britânico  Sir Bradley Wiggins provoca : Pedalar está ficando elitista, o ciclismo é o novo golf, não deveria se levar tão a sério

A proposta de Wiggo: pedalar por prazer e diversão

A proposta de Wiggo: pedalar por prazer e diversão

Aos 35 anos de idade e com um currículo invejável de seter títulos mundias de pista, quatro ouros olímpicos, um Tour de France e um recorde da hora, Sir  Bradley Wiggins ainda tem mais um objetivo para encerrar sua carreira desportiva: o ouro olímpico no velódromo do Rio de Janeiro. Mas é calçado neste vasto currículo que ele desmonta o momento que o esporte vem atravessando no mundo ao declarar: “Eu acho que o ciclismo está ficando um tanto elitista. As pessoas estão se concentrando muito em equipamentos e roupas. Basta ir numa manhã de domingo a Surrey e percorrer o antigo circuito olímpico para poder constatar que apesar de as pessoas estarem praticando um hobby elas não estão apenas dando uma voltinha, elas estão correndo”. Esta declaração de Wiggo foi dada ao jornal The Telegraph, na última quinta-feira (23/03) durante a apresentação de um evento ciclístico aberto ao público londrino, o  Prudential RideLondon-Surrey 46.

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No último Mundial de Pista, disputado recentemente em Londres, Wiggo em agradecimento à pista se ajoelha e beija o piso de madeira do Lee Valley Velopark, local aonde estabeleceu o recorde da Hora e aonde conquistou o título Mundial de Madison

A crítica de Wiggins é dirigida à perda de espírito popular que o esporte vem atravessando, principalmente junto ao público comum, aos amadores que pedalam :“O ciclismo é o novo golf.  As pessoas não saem apenas para pedalar com os outros, mas tem que exibir o melhor equipamento. Portanto, acredito que estamos indo um pouco além do simples espírito de participação e diversão”, disse o britânico.

O campeão é de um tempo em que soava esquisito sair para pedalar pelas ruas do noroeste de Londres. “Quando comecei a correr a região do parque olímpico era um terreno baldio e abandonado. Eu costumava rodar pela região para depois ir para casa” disse o ciclista. Eram tempos em que ver um garoto vestindo roupas de lycra provocava muitas gozações, e obrigava ao jovem Wiggo levar um abrigo para se trocar antes de voltar para casa. Hoje na Inglaterra os tempos são outros, o ciclismo tomou outras proporções, muito disso graças às conquistas de Wiggins. A bicicleta cada vez mais faz parte da cultura local, mas Wiggins sinaliza que talvez se esteja levando o ciclismo e a simples pratica de pedalar a um patamar um tanto exibicionista ou quiça egoísta.

Durante a apresentação da Prudential RydeLondon Surrey46 que percorrerá o circuito olímpico usado para os Jogos de Londres, Wiggins procurou marcar sua posição de maneira enfática, e acredita que a realização do evento e seu posicionamento sirvam para dissolver esse posicionamento extremo de alguns apaixonados pelo esporte: “Encontro pelas ruas com um monte de pessoas que amam sair para pedalar. Não podemos ignorar o elemento competitivo, que aliás está presente em todos os esportes, mas penso que esta competição seja um meio para o desenvolvimento de um ciclismo mais divertido e menos sério. Muitas pessoas disputarão a prova de 160 km mas está também a de 75  km que é muito mais viável para um monte de gente”.

Wiggo x carteiro

Com seu posicionamento Wiggins se dirige a um determinado público alvo: estimular as  pessoas que não fazem nada mais do que o clássico trajeto em bicicleta casa-trabalho. “O meu primeiro conselho é o de começar a pedalar, mesmo que você não tenha certeza do que pode ser feito. Todos nós podemos ter acesso a uma bicicleta, de alguma forma ou outra, você pode pegar uma emprestada com um amigo. Hoje há muita bicicleta a preços acessíveis: quando estamos começando é melhor não se sujeitar a muitas regras ou restrições. Assim com o tempo é possível  entender se você não gosta do ciclismo ou simplesmente se apaixonou por ele”, ou seja não adianta comprar aquela bicicleta que custa uma fortuna se você ainda não sentiu o esporte, é tudo uma questão de evolução e ir descobrindo o prazer, mas com uma mensagem, não é a bicicleta que faz o ciclista.

Wiggins em sua conversa direciona o público para o verdadeiro segredo da bicicleta,  a pura e simples diversão de pedalar: “É com certeza o fator mais importante. Corri por 25 anos e pretendo continuar por pelo menos outros 25. A sensação de liberdade que a bicicleta te dá, só é comparável à satisfação que você sente após uma pedalada. Isso em todos os níveis, de um Tour de France à aquela volta de domingo, quando você volta para casa e toma uma ducha logo vem a sensação de ter alcançado uma bela conquista. E isso faz você se sentir bem, não importando se fez 1  ou 100 km. Não importando o objetivo. Eu tenho esse sentimento todos os dias que saio em bicicleta”.

A mensagem é bem clara e mostra a verdade de um esporte que há mais de um século coloca ídolos e seu público lado a lado, quer nas estradas para acompanhar uma competição ou mesmo em uma pedalada ocasional quando você encontra seus ídolos rodando na mesma estrada que você: “Quando estou pedalando encontro com muitas pessoas que me reconhecem, se aproximam e fazem um trecho do percurso juntas. Não há outro esporte que ofereça essa possibilidade: o ciclismo é aberto a todos. Não sejamos elitistas: basta sair com a bicicleta, experimentar a sensação de liberdade e descobrir aonde ela te levará”.

Talvez Wiggo esteja remando contra a maré.  Em um mundo aonde o marketing , a quantidade de novidades e a necessidade das grandes marcas de provocarem o consumo, pedir pela simplicidade pode soar um discurso quixotesco, mas muito provocativo. A simplicidade da bicicleta é essa mesmo, não importa o preço dela, basta o prazer para ir de um lado a outro de uma maneira prazerosa e divertida.

3 comentário em WIGGINS: O PRAZER DO CICLISMO ESTÁ NA SIMPLICIDADE

  1. Lucas disse:

    Muito boa a conclusão!

  2. rafael de paula lobato disse:

    Pedalo a uns 15 anos, e a algum tempo atras comprei uma MTB para minha esposa, ela andou comigo algum tempo e depois me disse que queria ter uma Ceci caloi, pois tinha uma quando era mais jovem. Achei ridículo no começo mas montei uma pra ela e estou reformando. A primeira vez que ela andou na ceci senti nela uma satisfação pura, coisa que eu sentia quando era muleque e andava de caloi 10 toda arrebentada, mas mesmo assim era feliz, andava pelo prazer do esporte e meu desafio era chegar até a cidade vizinha, coisa de 15 KM. Talvez o que falte pra mim e pra muita gente é isso, sentir prazer na bike e não olhar marca e preço, pedalar como uma criança que acaba de aprender a andar de bicicleta, sem ver se sou o melhor, ou o pior, pedalar pelo prazer de pedalar.

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