GEOPOLÍTICA DA BICICLETA: MARCAS TAIWANESAS VOLTANDO A PRODUZIR EM CASA

A política de aumento de impostos na guerra comercial contra a China promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as recentes ações de dumping da União Europeia para as bicicletas elétricas chinesas, abalou toda a linha de produção de bicicletas e componentes de marcas de origem taiwanesa, isso provocou um movimento de repatriação industrial ou de busca para novas parcerias em outros países da Ásia. Um movimento que pode ser considerado geopolítico e que repercute fortemente na indústria da bicicleta

Fabricantes taiwaneses que deslocaram suas produções para a China, estão retornando para
suas bases em Taipei – foto: Maurice Tsai/GettyImages

A busca por preços mais baixos e uma maior produtividade empurrou, alguns anos atrás  as fabricas de componentes e de bicicletas para a China, foi um movimento mundial e que ganhou força com a transferência de grandes volumes de capitais taiwaneses para construção de fábricas na China. As recentes ações político-econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos provocaram uma forte reação e muitas dessas indústrias taiwanesas estão repatriando parte de suas linhas de produção, em busca de manter a competitividade nos mercados internacionais.

O assunto foi um dos mais comentados na última edição no 32º Taipei Cycle Show, realizado no último mês de março e tomou força ao ser abordado durante a cerimônia oficial de abertura, quando dois dos quatro oradores fizeram citações a esse movimento.  Para quem acompanhou, o sinal foi claro:  bem vindos de volta à casa.  Em seu discurso o vice-ministro de Assuntos Econômicos, Tseng Wen Sheng, destacou: “A Giant Bicycles está repatriando parte de sua produção da China para Taiwan, apoiada pelo Ministério de Assuntos Econômicos”.

Guerra comercial, aumento de impostos e a geopolítica da bicicleta se move entre fronteiras – foto: divulgação

 A Giant não ficou só nesse movimento de retorno para a ilha;  a Tektro e a TranzX (parcialmente) estão realocando suas linhas de produção.  Estas não são as únicas empresas a fazer esse movimento. Ao acender a luz vermelha para possíveis perdas para as indústrias de origem taiwanês com linhas de produção na China continental, o governo de Taiwan criou uma força-tarefa para facilitar o retorno das empresas, além disso criaram-se linhas especiais para novos  investimentos .

Além da elevação dos impostos ou das taxas anti-dumping  promovidos pela EU e Estados Unidos, um outro problema que vem repercutindo nos preços internacionais está diretamente ligado ao aumento dos salários do trabalhador chinês, em alguns setores,  segundo informa o South China Morning Post, entre 2010 e 2017 os salários chegaram a dobrar. Há de se acrescentar também o endurecimento das leis ambientais chinas, com pesadas multas e a obrigação da adequação das fábricas a controles mais rigorosos para combater a poluição e esse custo também está embutido nos preços.

Há coisa de pouco mais de dois anos acompanhou-se um primeiro movimento com fabricantes de quadros e componentes redirecionando sua produção para novas fabricas em Portugal, Turquia, Bulgária e Hungria . O objetivo desse movimento estratégico é a  redução dos prazos de entrega, flexibilização da cadeia de suprimentos e até a customização de determinados modelos de bicicleta. O objetivo  final além de oferecer uma melhor opção ao consumidor esta na agilidade entre a colocação do pedido e a entrega final aos pontos de venda.

Linha de montagem da Giant, em Taiwan – foto: Maurice Tsai/Getty Images

Neste momento, o que se verifica é que a China pode estar cedendo parte da sua posição como mais importante centro de produção de bicicletas e componentes. Outras empresas taiwanesas, como a Merida, SR Suntrou e a Composite Gear estão fazendo um outro movimento, deixando a China e transferindo-se para o Vietnã ou Indonésia,  o que não é nenhuma novidade pois isso já havia acontecido, por exemplo, com alguns fabricantes de pneus.

Algumas marcas dos Estados Unidos, no final do ano passado transferiram a produção de linhas mais econômicas para fabricas no Camboja que já em 2017 era o terceiro maior fornecedor de bicicletas para aquele país.

Segundo relatos da Bicycle Retailer, a Trek Bicycle estaria planejando transferir a produção de pelos menos 200  mil bicicletas, em geral modelos de entrada com quadros de alumínio. A produção de bicicletas no Camboja não é nenhuma novidade, basta destacar a Specialized que em 2013 produziu uma quantidade significativa de bicicletas para crianças e adultos. Bianchi, Scott, Felt, Rocky Mountain, Norco e Kona já usaram fabricas cambojanas para a produção de alguns de seus modelos.

Mas para quem pensa que a produção no Camboja é algo simples, o país reserva alguns desafios como não contar com um porto de águas profundas, o que obriga a utilização de navios menores para abastecer estoques fora do país, o que aumenta os custos e os prazos de entrega. Não é um país politicamente estável, e as greves são coisa comum, mas talvez o principal problema esteja na falta de um polo industrial para a produção de componentes, que precisam ser importados aumentando os custos com logística.

É a geopolítica da bicicleta, com gigantes do setor deslocando de um país a outro a produção de suas bicicletas ou componentes, com resultados concretos na geração ou diminuição de postos de trabalho e em alguns casos impactando fortemente no PIB , tudo para manter a indústria em um ritmo forte de pedaladas.

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