A VOLTA DA MOLTENI, AGORA PARA AJUDAR OS CICLISTAS EM DIFICULDADE

A lendária camisa da Molteni ressurgiu no velódromo de Londres. Jon Dibbben, Mario Molteni e Adam Blythe 

Pura nostalgia. Uma das camisas mais cobiçadsa por colecionadores e uma das mais copiadas na história do ciclismo reapareceu nas pistas. A emblemática camisa da Molteni , aonde Merckx construiu sua história, está de volta, seu ressurgimento aconteceu nos 6 dias de Londres, disputados no Lee Valley Velo Park. O retorno da Molteni, não será como uma equipe, mas como fundação  para ajudar os ciclistas em dificuldade

 

A disputa dos Seis Dias de Londres de ciclismo de pista trouxe muito mais que disputas esportivas em um dos mais agitados velódromos do mundo, o Lee Valey Velodrome; o evento foi marcado por uma ação dos herdeiros do legado da  Molteni, a fabricante de salames italiana que  teve sua marca eternizada  desde que iniciou seu patrocínio no esporte a pedal em 1958. O momento máximo da marca foi em 1971 quando Eddy Merckx chegou a equipe trazendo consigo uma legião de fortes ciclistas belgas como Van Springel, Swerts, Bruyère e Huysmans montando uma super equipe .

A Molteni dominuou uma época, com Merckx foram 246 vitórias, a essas devem se somar outras 48 vitórias obtidas com Gianni Motta e Rudi Altig, 47 de Michele Dancelli, e as 34 de Marino Basso e Davide Boifava.

A equipe surgiu do sonho de uma família, com os irmãos Pietro e Renato Molteni que não se limitaram ao patrocínio, Renato chegou a ser o técnico da equipe e anos mais tarde seria substituído pelo filho de Pietro, Ambrogio Molteni, um ex-ciclista profissional .

Foi sem duvida a primeira grande equipe do ciclismo profissional  surgida após a segunda grande guerra, seja pela longevidade – 18 anos, de 1958 a 1976, seja pela impressionante quantidade de vitórias conquistadas pelos 124 ciclistas – sendo 77 italianos –  que vestiram sua camisa. Ao longo de quase duas décadas foram conquistando 663 vitórias – 208 com ciclistas italianos e 455 com os estrangeiros que corriam pela equipe.  Na lista estão 4 Giro’s, 3 Tour’s e 1 Vuleta e mais 102 vitórias dde etapas; 23 títulos nacionais; 15 clássicas momumento (3 Lombardia, 5 Milano-Sanremo; 5 Liège-Bastonge-Liège, 1 Paris-Roubaix, 1 Tour de Flandres; 3 campeonatos mundiais (Altig 1966 e Mercx 1971/74) e o recorde da hora de Merckx em 1972

A Molteni de 1971 em um cartão promocional do patrocinador

Porém, em 1976 vieram anos duros para a Alimentari Molteni Arcore, indústria alimentícia da charcutaria e embutidos (salames e outros frios)  que se viu obrigada a cortar o patrocínio da equipe de ciclismo. Grande parte dos problemas que levaram ao fim do estreito relacionamento que a família tinha com o esporte eram de ordem administrativa,  a empresa passou por um controle do governo que detectou uma gigantesca evasão fiscal, o que à época foi  denominado na Itália como o “escândalo da mortadela ao esterco”, sem relação com a qualidade dos produtos, mas uma metáfora que remetia ao crime fiscal.  Os anos difíceis ainda reservavam a tragédia com a morte da mulher do fundador, Olga Sala, que  quando estava caminhando pela fábrica escorregou e caiu sobre uma serra circular e sangrando até a morte. A falência da Molteni, foi decretada em  1987  Em 1993, Molteni é condenado por falência fraudulenta e balanços falsos, decretando o fim de uma marca. Em 2005, Ambrogio Molteni morre aos 72 anos vitima de um infarto.  Seus filhos Mario e Pierangela retormam ao negócios da família,  sob o nome de Salmilano, chegando a patrocinar, entre 2005 e 2006 a equipe continental Tenax-Salmilano.

A tradicional camisa cor de camurça com a faixa azul carregando a marca, inspirada nas cores dos caminhões que faziam a entrega dos produtos alimentares da Molteni ressurgiu no dia 24 de outubro de 2018,  primeira noite da disputa dos Seis Dias de Londres, vestida por duas duplas de ciclistas – os campeões mundiais da Madison, os alemães  Roger Kluge e Theo Reinhard e os britânicos Adam Blythe e Jon Dibben. Não se trata de uma nova equipe Molteni, a marca não existe mais desde a falência em 1986, apesar da família se manter no ramo a charcutaria e de guardar em seus corações uma forte ligação com o esporte.

Mark Cavendih recebe de Mario Molteni uma camisa da equipe

Durante a apresentação dos ciclistas que vestiriam a camisa, Blythe, de 29 anos declarou: “Estamos honrados em representar a Molteni, nos Seis dias de Londres. É muita pressão para preencher essa camisa tão pesada, mas é uma ocasião muito especial para nós dois”, concluiu. Seu companheiro, Jon Dibben acrescentou: “É muito especial usar a mesma camisa que Eddy Merckx usava há 40 anos. Estou realmente ansioso para entrar na pista e competir com ela”.

Não é coincidência de que o ressurgimento acontecesse em Londres  e dentro de um velódromo. Os britânicos tem hoje uma das equipes mais fortes do cenário internacional – com destaque na estrada e também com um belo trabalho nas pistas com sua seleção nacional.  Os ciclistas da Molteni dominavam as estradas no verão, e no inverno mostravam sua técnica nas pistas preparando mais uma temporada.

A Molteni, não voltou como equipe, apesar da mesma camisa, o seu retorno se dá na forma da Fundação Ambrogio Molteni, tendo como principal objetivo um projeto de solidariedade que busca apoiar ex-ciclistas em dificuldade. A ação não tem finalidade comercial e nem ao menos trata-se de um sinal para o retorno da família aos patrocínios do ciclismo.

Adam Blythe com a camisa da Molteni, comemora a vitória na prova de Derny dos 6 dias de Londres

Durante a apresentação da equipe que representou a Fundação que iniciará suas atividades nos primeiros meses de 2019,  Mario Molteni, filho de Ambrogio e neto de Pietro Molteni declarou: “É um ato de amor pelo ciclismo. Meu pai e meu avo me levavam com ele a assistir algumas etapas desde que eu era muito pequeno. A paixão pela bicicleta e por tudo o que ela representa me foi passada desse jeito”,.

Passados mais de 60 anos do inicio da construção da história da Molteni no ciclismo, e pouco mais de 40 anos após o seu fim, o retorno se dá através da fundação. “Queríamos homenagear a memória dos meus familiares que infelizmente já se foram”, declarou o herdeiro do legado, Mario Molteni.

Ao apresentar a Fundação, Mario Molteni, disse “Em todo esporte, não é raro encontrar histórias muito amargas de protagonistas que caíram em desgraça por causa de desventuras, escolhas erradas ou outro tipo de circunstâncias. O ciclismo, nesse sentido, não é uma exceção, às vezes também devido a consequências de episódios traumáticos graves durante uma corrida ou em um treinamento. O nome da nossa família significou muito para o ciclismo e nós queremos relembrar do nosso pai com o compromisso  de ativarmos um circuito virtuoso que possa trazer alivio para os protagonistas menos afortunados do nosso esporte”.

Além do auxilio a ex-profissionais do ciclismo que estão em dificuldade ou foram vitimas de lesões a fundação  também deverá apoiar jovens talentos que se viram obrigados a abandonar o seu sonho por acidentes mais graves. Para isso serão organizadas atividades de caridade para arrecadar fundos com a finalidade de dar ao ex-ciclista o alivio moral e econômico necessário.

1 comentário em A VOLTA DA MOLTENI, AGORA PARA AJUDAR OS CICLISTAS EM DIFICULDADE

  1. Alessandro Giannini disse:

    Sensacional Matéria. Parabéns George Panara por nos brindar com tamanha dedicação e conhecimento!!

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