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BOMBA ESPANHOLA
FEDERAÇÃO ESPANHOLA CONTRATOU O DOUTOR FERRARI PARA “PREPARAR” A SELEÇÃO DE PISTA PARA A OLIMPÍADA DE ATLANTA’96
Em depoimento ao Tribunal Arbitral do Esporte – TAS – o médico espanhol Luis García del Moral declara como prescreveu EPO e hormônios do crescimento aos integrantes da sleção olímpica espanhola com a colaboração do Dr. Ferrari, reconhecido médico do pelotão de dopados que tinha entre seus clientes a Lance Armstrong.
Matéria bombástica publicada nesta terça-feira (17/04) no jornal espanhol El País, produzida pelo jornalista Carlos Arribas e que destrincha o interrogatório do médico Luis García del Moral, feito no outono europeu de 2016, em Lausanne, na Suíça, no castelo de Béthusy, sede do Tribunal Arbitral do Esporte – TAS.
A matéria apresenta parte de uma série de perguntas feitas por James Bunting, advogado de Johan Bruyneel ao médico espanhol suspenso por toda a vida pela USADA – agencia estadunidense de anti-doping – Luis García del Moral pela sua participação no esquema de dopagem sistemática de Lance Armstrong na equipe USPostal .
O caso se arrasta há quase dois anos, em discussão estão os recursos impetrados por Bruyneel, diretor da USPostal e do técnico da equipe José Marti contra as penas aplicadas pela USADA, 10 e 8 anos, respectivamente, impostas pela entidade em abril de 2014. Segundo fontes do jornalista espanhol em Lausanne, o caso está se atrasando “devido à especial relevância do caso”, porém é provável que ao final do próximo mês de maio haja um veredito.
Pela primeira vez na história do esporte espanhol são apresentadas provas contra uma federação desportiva – no caso uma entidade privada que recebe dinheiro publico e é responsável pela preparação da elite daquele país para grandes eventos e sob o controle do Conselho Superior de Desportos – CSD - de que esta tenha organizado e financiado um programa de dopagem para melhorar o rendimento de seus esportistas.
Até agora nem García del Moral e nem Ferrari, suspensos por toda a vida de suas atividades recorreram da pena. Além disso nenhum deles poderá ser sancionado novamente das revelações apresentadas pelo médico espanhol García del Moral pois os fatos prescreveram.
As grandes instituições ligadas ao esporte espanhol e internacional como a Agencia Espanhola Antidoping –AEPSAD, a UCI e a Agência Mundial Anti-doping que tinham conhecimento das declarações de Del Moral junto ao TAS levaram a fundo a investigação dos fatos apresentados.
Para dar respaldo às suas declarações García del Moral, médico da seleção espanhola de pista entre 1993 e 1998 e que aplicou EPO (naquele momento indetectável nos controles anti-doping) e hormônios do crescimento, apresentou uma planilha datada de 15 de julho de 1996 (apenas quatro dias antes do inicio das Olimpíadas de Atlanta) e intitulada Justificativa de Despesas totalizando um valor de superior a 12 milhões de pesetas (moeda em circulação na Espanha, antes da implantação do Euro, em valores atuais seria pouco mais de 80 mil euros – ou R$337 mil ) entregue à Real Federação Espanhola de Ciclismo, sob a presidência de Juan Serra. O documento está catalogado como prova e recebeu o selo de “Confidencial” ; tem em seus registros movimentações diversas como no período de 30 de janeiro a 15 de julho de 1996 despesas com farmácia superiores a 36 mil euros; despesas de 6 mil euros junto ao laboratório do Doutor Montoro, especializado em analises clínicas aonde eram verificadas se as doses estavam sendo administradas nas quantidades corretas, além disso dois pagamentos ao Dr. Ferrari, feitos em abril e junho em um valor de 25 mil euros.
Naqueles anos a EPO e os hormônios do crescimento podiam ser adquiridos em qualquer farmácia espanhola, bastando apresentar a receita médica. E para isso, García del Moral assinava suas próprias receitas, sem a necessidade de buscar a droga no mercado paralelo, tudo feito às claras.
Apesar da “preparação” a seleção formada por seis ciclistas não conseguiu subir ao pódio em Atlanta. Na perseguição por equipes Juan Martínez Oliver, Joan Llaneras, Adolfo Alperi e Santos González ficaram na 5ª posição, mesmo resultado obtido por Martínez Oliver na perseguição individual. Lanneras ainda fez um 6º lugar na prova por pontos. Na velocidade a Espanha ainda teve como representantes a José Manuel Moreno e José Escuredo.
O caso da contratação do Dr. Ferrari e das compras de medicamentos já tinham sido postos em discussão pela revista Meta 2Mil pouco depois das olimpíadas, em outubro de 1996 quando esta revelou um boletim da federação espanhola com despesas relativas a “medicação da equipe de pista” e também apontou a contratação de Michele Ferrari , naqueles anos famoso por ser o médico de Tony Rominger e do espanhol Abraham Olano. Vinte e dois anos atrás, Del Moral negava aos jornalistas que tivesse receitado EPO aos seus ciclistas e indicava que a despesa anotada como “medicação “ deveria ser “área médica” , apontando que nesse valor deveriam ser incluídas despesas com viagens à Itália para consultar o dr. Ferrari que nunca se deslocou até o velódromo Luis Puig, em Valência, aonde se preparavam os espanhóis.
Naquele 1996, o presidente da federação espanhola declarou: “Os ciclistas me pediram e por meio de um grande dos dois, pude falar com Ferrari. Consegui que ele trabalhasse conosco, o que é muito difícil. Cobra muito dinheiro. Quando soube o que iriam custas os serviços do Ferrari procurei um orçamento para cobrir as despesas. Contatei com a Caja España e eles com seu patrocínio à seleção de pista cobriram as despesas médicas. Suponho que a medicação também foi fornecida pelo Ferrari, eu não me envolvo nisso. Ele dizia a Del Moral o que tinha para lhes dar”.
Passados 22 anos, a memoria de Serra, agora com 88 anos não é mais a mesma e minimiza os fatos ao ser indagado pelo jornalista do El Pais sobre os serviços do doutor italiano: “Não nunca contratamos a Ferrari”, e tenta explicar seus encontros: “Eu me encontrei com ele um par de vezes, e sim , pagamos por uns relatórios que ele fez para a equipe, porem mais nada”. Sabe-se que naquele momento o presidente da federação espanhola, estava sob pressão de parte de Rafael Cortés Elivira, presidente do Conselho Superior de Esportes para que a equipe de pista fosse competitiva, assim Serra perguntou ao médico Del Moral o que precisavam fazer e este respondeu que deveriam contratar o melhor, ao Doutro Ferrari. “Mas nunca teria permitido que dopasse os ciclistas. Nem estava a favor disso e nem sabia”, concluiu
Pessoas ligadas ao CSD que trabalharam naquela época se lembram que os elevados gastos com médicos na federação espanhola tivessem chamado a atenção. Por lá também ninguém se lembra se haviam contratado o dr. Ferrari. E nos arquivos não há registros de despesas feitas naqueles anos por nenhuma federação .
Ferrari , como de costume nos últimos tempos quando é procurado pela imprensa, não se manifestou.
Após trabalhar com a seleção do seu país, Del Moral assumiu o cargo de médico da USPostal, em 1999, ficando até 2003, coincidentemente o período das cinco vitórias de Lance Armstrong no Tour. Michele Ferrari já trabalhava com a equipe estadunidense, mas nunca figurou oficialmente nos quadros da equipe.
Nas muitas páginas do interrogatório feito pelos advogados da USADA, Bruyneel e Martí do caso de Luis García del Moral e que estão nos arquivos do TAS, o médico espanhol reconhece que quebrou com seu juramento de Hipócrates no qual jurou praticar a medicina honestamente e que ao longo de sua carreira dopou a muitos esportistas.
A seguir, algumas das perguntas e as respostas de Luis García del Moral
- Durante cinco anos trabalhou com membros da seleção espanhola de ciclismo?
- Sim. Fui responsável da seleção nacional de pista, mas não dos controles médivos. Responsável médico.
- E durante esse período de 1993 a 1998, também trabalhou com o doutor Ferrari?
- Sim
- E o doutor Ferrari estava envolvido com seu trabalho na federação espanhola de ciclismo?
- Sim
- É verdade que durante esse período forneceu corticoides aos ciclistas espanhóis?
- Isso não era o principal. O principal era EPO e hormônios do crescimento.
-Existiu um programa de dopagem na seleção espanhola de ciclismo entre 1993 e 1998?
-Sim
- Podemos concluir que o senhor rompeu com suas obrigações profissionais como médico?
-Frequentemente
- Fez isso por dinheiro?
- Não foi por dinheiro. Quando comecei com o USPostal só ganhei 6 mil euros por toda a temporada
- Ambos podemos concordar que você forneceu ou administrou substâncias para melhorar o desempenho e métodos similares para muitos esportistas durante sua carreira?
-Assim no geral? Fora de uma equipe? Não sei se quantos significa muito., mas sim.
- De acordo. E fez isso porque você era pago para isso?
- E porque fazia parte do sistema ... See more