SÃO PAULO: CICLOVIAS E SEU IMPACTO NO MERCADO IMOBILIÁRIO

 Estudo do  Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP analisando dados da capital paulista,   aponta que mercado imobiliário tem reação favorável e valoriza regiões aonde há ciclovias e infraestrutura que incentive a utilização da bicicleta como meio de transporte

O mercado imobiliário aponta para valorização dos imóveis próximos à ciclovias Foto: EMBARQ Brasil-WRA Brasil Cidades Sustentáveis-Visual Hunt

O boom das ciclovias na capital paulista teve repercussão direta nos custo dos imóveis da capital paulista. Isso é o que revela o estudo do pesquisador Fábio Tieppo, desenvolvido para  Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP.  O mercado imobiliário mostra valorização aonde as bicicletas circulam,  o que deveria ser visto com bons olhos por investidores;  enquanto isso trava-se uma guerra silenciosa aonde políticos querem acabar com trechos já implantados de ciclovias e aonde o governo municipal não dá sinais de que tenha uma política clara para o uso da bicicleta como meio de transporte e nem para os 468 km de ciclovias da cidade. É certo que muitos desses trechos merecem ser reavaliados, mas não basta retirar ou transformar esses trechos em  ciclorrotas é preciso um projeto sério.

No momento em que,  segundo o jornal Folha de São Paulo, os vereadores  Edir Sales (PSD)  se movimentam com abaixo-assinados para retirar ciclovias da Vila Prudente, na zona leste;  Aurélio Nomura (PSDB) faz requerimentos contra as ciclovias da Vila Mariana. Mário Covas Neto (PSDB) quer remover as que passam ao lado da Câmara Municipal, no centro e João Jorge (PSDB) trabalha para  cortar mais de cem trechos por toda a  cidade o NEREUS  – Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP – mostra uma outra realidade e que aparentemente ainda não foi percebida por uma grande parcela da classe política: as ciclovias valorizam as regiões em que elas estão instaladas.

Em seu estudo Tieppo apresenta a relação entre o preço dos imóveis na capital paulista e a expansão da rede cicloviária na cidade. Os dados coletados apontam  o crescimento dos deslocamentos feitos com bicicleta. O primeiro trabalho mostra a pesquisa realizada em 2007 pela OD – Origem/Destino – quando apenas 0,8% das viagens da capital Paulista eram feitas em bicicleta. Com o aumento da malha cicloviária esse número chegou a um crescimento de 50%  até 2014.

A pesquisa de Fábio Tieppo analisou a influência do aumento do número de pessoas usando a bicicleta e também da constância do uso, motivada pelo crescente número de vias para bicicleta, e o impacto provocado no mercado imobiliário. Foram analisados os tipo se ciclovias encontrados na cidade, levando-se em consideração sua construção, se é segregada ou se faz parte de um projeto urbanístico. Ao todo as ciclovias da cidade foram classificadas em 6 tipos.

Utilizando o banco de dados dataZap,  fornecido pelo site de busca de Imóveis Zap, Tieppo fez o mapeamento dos imóveis á venda ou para locação na cidade de São Paulo e dividiu o município em 350 zonas.  Para o estudo foram levados em conta informações do imóvel como quantidade de quartos,  suítes, banheiros, garagens, preço do condomínio e idade do imóvel. Também foi avaliada a sua localização e as facilidades encontradas em seu entorno, como saúde, segurança, transporte,  educação e cultura.

O mapeamento apresentou resultados que revelaram que os imóveis mais próximos das ciclovias apresentavam uma valorização mais elevada, e que conforme maior a distância do imóvel para a ciclovia a valorização caía rapidamente . Para os estudiosos de economia e urbanismo os dados são muito importantes pois a expansão das ciclovias revelam que não se trata apenas de uma questão de trânsito ou mobilidade, mas de economia, ecologia e qualidade de vida.

Porém,  o pesquisador aponta que para o aumento real da utilização da bicicleta como modal,  é preciso ir além do investimento em vias e infraestrutura. É importante que sejam criados mecanismos para desestimular a utilização de automóveis  e promover incentivos para que mais pessoas utilizem a bicicleta e assim ocorra um aumento significativo no número de usuários. É preciso ir além, e fazer campanhas educativas e buscar como já acontece na Europa incentivos fiscais para que isso seja viável.

Por outro lado Tieppo também apresentou os problemas e benefícios trazidos pela expansão da estrutura de ciclovias.  Como lado negativo, o pesquisador aponta o estreitamento de vias em algumas regiões, o que pode criar ou aumentar os congestionamentos de automóveis, outra consequência é a redução de vagas de estacionamento nas ruas  o que pode ocasionar algum impacto no comércio em ruas que recebem ciclovias.   O lado positivo está no custo mais baixo da mobilidade; redução das emissões de CO² na atmosfera;   melhoria da  saúde motivada pela  atividade física; segurança, pela redução de acidentes.

O trabalho apresenta dados do crescimento da malha cicloviária em muitas cidades dos Estados Unidos, além de utilizar informações de cidades europeias que tiveram resultados positivos ao direcionarem uma carga maior de investimentos na malha cicloviária.  Um bom exemplo é a  Holanda, país que conta com a maior porcentagem de viagens realizadas em bicicleta, e que registrou uma diminuição muito grande no número de acidentes de trânsito fatais, quase inversamente proporcional ao crescimento das viagens de bicicleta.

Fonte: Assessoria de Imprensa FEA/USP

 

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