SUPER MAGNÉSIO A NOVA FRONTEIRA DA INDÚSTRIA DA BICICLETA?

Em setembro de 2018, na Interbike foi apresentado um protótipo de quadro construído com uma nova liga de metal, denominada Super Magnésio. A super liga tem como qualidades ser 33% mais leve que o alumínio, 50% mais leve que o titânio, 75% mais leve que o aço e quando comparada com a fibra de carbono seu preço é muito competitivo, além de ser um metal altamente reciclável, uma liga que para muitos revolucionará a indústria. Seis meses depois, durante a NAHBS, na Califórnia, é lançada, oficialmente, a primeira bicicleta construída com essa liga: a Weis Hammer Track Allite Super Magnesio Edition

Primeira bicicleta a ser construída com a super liga: Weis Hammer Track Allite Super Magnesium Edition

A busca por novo materiais  para a indústria da bicicleta é uma coisa constante, e tem relação direta com a evolução tecnológica, com a redução de peso e sempre que possível com uma melhor equação quando se trata de investimentos, procurando-se sempre a viabilidade do melhor custo x benefício.

Na indústria da bicicleta as ligas de magnésio não são nenhuma novidade. Muitos garfos de suspensão já utilizam esse metal e também já tivemos alguns fabricantes, a maioria deles artesanais que se aventuraram a trabalhar com essa liga de metal, como exemplo não muito distante, lá pelos anos 2000, a tradicional fabricante de tubos para quadros Reynolds produziu uma linha de tubos que apesar de excelente qualidade exigia muito cuidado durante a soldagem pois o superaquecimento poderia provocar algum problema estrutural. Um exemplo muito comentado, sobre os perigos do superaquecimento do magnésio é do construtor Keith Bontrager que no inicio dos anos 90, estava trabalhando em sua garagem no desenvolvimento de um garfo de magnésio e acabou colocando fogo no seu local de trabalho.


Canote de selim, crow de suspensão e seção de aro – as muitas variáveis para a utilização de liga de Super Magnésio da Allite  foto: Allite

A nova liga, o Super Magnésio foi criada pelos engenheiros e químicos da Allite e começou a ser desenvolvida em 2006, mas seu uso estava restrito a indústria militar e aeroespacial, após uma década de trabalhos a empresa conseguiu atingir um patamar que tornou a liga de Super Magnésio viável para a indústria em geral, e é aí que entram os fabricantes de quadros ( muitas outras peças) de bicicletas.

Da linha de produção da Allite Inc. são oferecidas três ligas de magnésio, sob a especificação AE81, ZE62 e WE54, aonde, a grosso modo para entender a formação da liga o A é o Alumínio; E são Metais de Terras Raras (esses são para quem domina a tabela periódica )  ; Z refere-se ao zinco e finalmente o W do Ítrio. As ligas são tão novas que a AE81 e a ZE62 ainda não tinham sido listadas pela Sociedade Americana de Metais.

A liga de Super Magnésio poderá revolucionar a indústria da bicicleta

Todas as ligas são compostas por pelo menos 90% de magnésio e cada uma delas atende uma determinada necessidade, e com isso uma pode ser trabalhada através da soldagem, outra no forjamento tridimensional e outra na fundição. A liga desenvolvida para a construção de quadros é a AE81 – e para entender a sua estrutura é fácil, os numerais referem-se à porcentagem de cada liga combinada com o magnésio, assim temos 8 por cento de alumínio e 1 por cento de elementos de terras rara; e é justamente nesses Elementos de Terras Raras – estrategicamente não divulgada pela Allite que está o diferencial e que garantem ao Super Magnésio maior segurança ao ser trabalhado e uma maior durabilidade.

A primeira bicicleta comercializável, construída com tubos dessa nova liga foi apresentada durante o NAHBS – North American Hand Made Bicycle Show, realizado em Sacramento, na Califórnia, entre os dias 14 e 17 de março. Uma feira que reúne artesãos construtores de quadros (também conhecidos por frame-builders) e que se tornou referência internacional, reunindo os mais destacados construtores e que a cada ano atrai importantes empresas fornecedoras de componentes.

Weis foi a primeira marca a usar a super liga

A Allite não tem como objetivo a produção de quadros de bicicletas, assim optou por desenvolver uma parceria com  nova-iorquina Weis Manufacturing, sediada no Brooklyn que desenvolveu o protótipo da  pisteira  Weis Hammer Track Allite Super Magnésio Edition, em seu catálogo a Weis também tem um modelo de estrada da linha Hammer.

Segundo dados divulgados durante a NAHBS o quadro apresentado era ainda um pouco pesado – 1.100 gramas. Porém, o fornecedor garante que haverá, muito em breve, uma redução desses valores com o fornecimento de tubos de espessura variável. Para atender os padrões de qualidade e verificação de normas de segurança, o modelo passou por testes na fábrica da Allite, com o quadro recebendo 100 mil ciclos de estresse sem apresentar falhas.

Além do teste de estresse, a nova liga passou por um teste de corrosão, aonde é aplicada uma pulverização de sal por mil horas. A nova liga da Allite não apresentou nenhum sinal de corrosão.  Segundo o diretor de produtos e marketing da Allite, Morten Kristensen:  “A Ford Motor Company realizou testes semelhantes, porque eles usam nosso material sem pintura em alguns de seus modelos”.

Sobre as qualidades da tubulação e como esta deve ser trabalhada, Robert Bezutcyk, co-fundador da Weis declarou: “Ela funciona muito bem. A soldagem é um pouco mais desafiadora do que o alumínio, você utiliza o próprio magnésio para preenchimento.”, e concluiu “É apenas uma questão de entender quanto calor ele precisa, e com que rapidez você o solda para obter as soldas limpas.”

Assista o vídeo do lançamento da
Weis Hammer Track Allite Super Magnesium Edition

Apesar da apresentação da bicicleta, a Weis não divulgou o preço do quadro construído com a super liga da Allite ao consumidor, apenas que a estimativa de que em breve  elas começarão a ser comercializadas por algo “bem próximo ao custo de um quadro com os tubos de alumínio”.

Com toda a tecnologia para o desenvolvimento das ligas, a Allite, que tem sua sede em Dayton Ohio, não é uma empresa distante do mercado das bicicletas, ela tem como empresa irmã a popular fabrica de bicicletas Huffy, que pertence ao grupo de investimentos UWHK, United Wheels Ltd., sediada em Hong Kong, e que no ano passado adquiriu a Niner Bikes, tradicional marca de bicicletas de 29″. Segundo informações, o grupo estaria interessado em se tornar uma empresa direcionada ao mercado mais elevado.

O diretor de produtos e marketing da Allite, Morten Kristensen, descartou, ao menos momentaneamente que as bicicletas do grupo United Wheel passem a ser construídas com os tubos de Super Magnesio, mas há indícios de que a Niner estaria trabalhando em alguns protótipos para entender o material e o seu desenvolvimento. A Allite, apesar de estar fisicamente próxima da sede de design da Huffy, pretende ser apenas um fornecedor de tubos de estrutura metálica e metal para a fabricação de quadros e componentes.

A Allite aposta alto na liga de Super Magnésio, afinal ela pode ser utilizada para produzir praticamente tudo de que é produzido em alumínio para uma bicicleta de pedivelas, aros, braços de suspensão, canotes de selim, avanços e mesas de guidão, pinças de freio, alavancas de comandos.

Em setembro do ano passado, durante a Interbike, o presidente da Allite, Bruno Maier, adiantou que já havia conversas com fabricantes de componentes como Shimano e Sram , e sabe-se que seus representantes foram vistos no stand da fabricante da liga.

Os apelos de comercialização da super liga são muitos, a começar pelo menor consumo de energia em sua produção. Por se tratar de uma matéria-prima mais macia seu corte é mais rápido e com isso há uma economia de ferramental. Para os quadros, depois de acabados, o fabricante recomenda o tratamento térmico T5. Para a soldagem de quadros pode ser utilizada a solda TIG, já encontrada em muitos fabricantes de quadros.  Quanto ao desempenho da liga o fabricante aponta que se encontra no mesmo nível dos compósitos de carbono, e é cerca de 20 vezes maior que o alumínio.

Talvez o ponto alto seja a sustentabilidade do material que vai atender aos apelos de consumidores cada vez mais ambientalmente conscientes, pois  o magnésio é o metal mais ecológico e sustentável do mundo, já que é 100% reciclável e tem ocorrência natural generalizada com reservas ilimitadas. O Super Magnésio é algo muito novo e que poderá impactar de forma muito positiva a indústria da bicicleta, muito além da construção de quadros.

ONDE O MAGNÉSIO É ENCONTRADO?

É abundantemente disponível na terra, o que torna o elemento mais sustentável para minerar e refinar do que o titânio ou mesmo o alumínio. O magnésio é produzido a partir de água do mar, salmoura e minerais contendo magnésio, que oferecem reservas ilimitadas. Devido à sua ocorrência natural generalizada e à forma como é colhido e processada, o magnésio é considerado o metal mais ecológico e sustentável do mundo. O magnésio pode ser 100% reciclado e se dissolve naturalmente (é biodegradável) , sem deixar vestígios.

O metal estrutural mais leve, o magnésio, tem uma densidade apenas ligeiramente superior à dos plásticos e dos polímeros reforçados com fibra de vidro ou carbono.

  • É o mais leve de todos os metais estruturais
  • Possui alta resistência ao impacto
  • Tem uma alta relaçãoresistência-peso
  • Melhor fundibilidade do que o alumínio
  • Elevada rigidez específica
  • Ele fornece blindagem de interferência eletromagnética muito eficaz sem filtros.
  • Tem excelente dissipação de calor. Componentes de parede fina otimizam a transferência de calor de forma mais eficaz do que alumínio e plástico.
  • Apresenta uma das pegadas de carbono mais baixas em toda a cadeia de valor de qualquer material estrutural.
  • 21% mais resistente que a liga de alumínio 6061
  • 1,8 gr/cm³ é o mais leve de todos os metais estruturais
  • 100% reciclável
  • 75% mais leve que o aço
  • 50% mais leve que o titânio
  • 33% mais leve que o alumínio

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