TOUR DE L’AVENIR – MARC SOLER É CAMPEÃO

O espanhol Marc Soler é o novo campeão do Tour de l’Avenir,  a mais prestigiosa competição para os ciclistas da categoria Sub-23.   Uma edição  marcada pela mudança de líderes,  nenhuma chegada massiva,  muitos ataques e três etapas de alta montanha que provocaram muitos abandonos. A vitória na última etapa ficou com o russo Matvey Mamikin. O brasileiro Caio Godoy terminou entre os top 30 da classificação geral

O catalão Marc Soler é o 12º espanhol a conquistar o Tour de l'Avenir foto: ©Thibaut Vianney /Agence Zoom

O catalão Marc Soler é o 12º espanhol a conquistar o Tour de l’Avenir        foto: ©Thibaut Vianney /Agence Zoom

No último dia de estrada quem ainda está começando não tem a mesma moleza dos profissionais já estabelecidos, a última etapa do Tour de l’Avenir não é um desfile, muito menos uma festa. É mais um duro teste para deixar registrado que o vencedor dessa importante competição, na maioria das vezes, se transformará em um grande ciclista. E assim, a última etapa apesar de curta ,   93 kms , grandes armadilhas estavam espalhadas em seu percurso, o Col du Mollard (1ª Cat. – 17,9 km a 5,7% – 1.638 mt.), a Croix de Fer (1ª Cat – 7 km a 8% – 2066 mt.) e sua longa descida com mais de 20 km, os Lacets de Montvernier (3ª Cat. 3,1 km a 9% – 782 mt.) e para finalizar a chegada no alto em  Montée des Bottiéres (3ª Cat – 9,5km a 7% – 1.249 mt).

Fugindo do comodismo e da previsibilidade de que teríamos uma prova que se definiria na última subida, o que se viu, mais uma vez,  foi um pelotão que queria ação e que com um ataque bem feito poderia colocar em risco o camisa amarela.  O espanhol Marc Soler  que apesar de ter uma confortável vantagem de 1 minuto, teria que defender e muito a sua vantagem e se cuidar para não passar por dificuldades em alguma dessas montanhas, pensando nesta possibilidade o primeiro a dar combate e seguindo a mesma cartilha da etapa anterior aonde foi o vencedor, o francês Elie Gesbert resolveu saltar em busca de mais uma escapada.

O russo Matvey Mamykin venceu a 7ª etapa e a classificação de Montanha ©Thibaut Vianney / Agence Zoom

O russo Matvey Mamykin venceu a 7ª etapa e a classificação de Montanha    foto: ©Thibaut Vianney / Agence Zoom

Porém, para a última etapa o pelotão preferiu não se acomodar e deu combate ao francês, a ação solitária não durou mais do que 10 km quando um grupo de nomes importantes da classificação geral foi à caça. Os colombianos partiram com o trio Henao, Aldemar Reyes e Daniel Martinez, o australiano Jack Haig, o russo Alexey Rybalkin e Matvey Mamykin, o belga Laurens de Plus, o alemão Lennard Kämna, os italianos Simone Petilli e Edward Ravassi, o ucraniano Anatoliy Budyak, o espanhol Julen Amezqueta, o holandês Martijn Tusveld e o francês Guillaume Martin.

Os colombianos entraram para o tudo ou nada, vinham de apresentações magras, sem resultados expressivos quando muito se esperava deles. Henao resolve saltar do grupo aonde estavam os melhores da Classificação Geral e atacar o Col du Mollard aonde passa em primeiro e na descida resolve soltar os freios e ampliar a vantage. Quem o acompanha nessa ação é o seu compatriota Aldemar Reyes. A ação dos sulamericanos foi positiva e ao final da descida já ampliavam a vantagem que passava dos 35 segundos.

A vantagem da dupla cafeteira sobre o pelotão aonde está o maillot jaune, Soler,  supera os  2 minutos, o espanhol resolve “descer” até o carro de apoio para discutir a situação, sinalizando que estava passando um mal momento antes de começar a escalada do Croix de Fer.

A escalada da montanha de 1ª categoria foi dominada pelo colombiano, ciclista da Sky, Sebastian Henao. Tempo depois passaram Martinez, Mamykin, Haig, Cicone e Reyes e Soler. A montanha cobrou um preço alto para muita gente do pelotão que passou pelo alto, todo fracionado.    Na descida Henao busca ampliar sua vantagem que já passava de 1 minuto,  o camisa amarela tenta se recompor.

No pé da escaladada aos Lacets de Montvernier, o camisa amarela sai em defesa de sua posição e ataca a montanha, para buscar conectar-se com o grupo que estava dando caça à fuga de Henao. Agora são cinco os ciclistas que perseguem o colombiano: Sam Oonem, Mamykin, Mühlberger Daniel Martínez e Soler. A ação de ataque só mostrou resultado após a passagem dos Lacets.

Ao iniciar a escaladada da subida que conduzia à chegada no Montée des Bottiéres, a vantagem de Henao era de 30 segundos e era minada a cada metro. Sam Oonem, Mamykin, Mühlberger, Haig e Soler atropelaram o colombiano que pagava alto preço pelo esforço e uma súbita queda de energia o tiravam da disputa; vendo a situação complicada de seu companheiro de seleção Daniel Martínez resolve escolta-lo até a chegada.

Passado o pórtico do último quilômetro sobraram para a disputa Haig, Soler e Mamykin. Nos 200 metros finais o russo Mamykin resolve tomar a ponta e lutar pela etapa, deixando o australiano Haig na segunda posição. Após uma etapa de muito sofrimento o catalão Marc Soler defendeu sua camisa de líder e cravou seu nome na história como o 12º espanhol a vencer a classificação geral do Tour de l’Avenir.

Ao final da etapa, o novo campeão de 21 anos, nascido em Vilanova i la Geltrú, na Provincia de Barcelona declarou: “A etapa foi realmente muito difícil. Achei que não chegaria.  Além disso perdi tempo no último quilômetro. Pensei que ia morrer! Mas eu desliguei. Essa vitória significa muito para mim. Estava preparado para isso. Agora pretendo continuar minha evolução junto à Movistar. Adoraria fazer no próximo ano o Giro ou a Vuelta, deixo a decisão para os dirigentes, eu ainda me considero em aprendizado”.

O brasileiro Caio Godoy que no ano sofreu uma queda na 4ª etapa do  Tour de l’Avenir que se fez sentir ao longo das demais etapas, nesta edição foi o melhor ciclista da equipe do Centro Mundial de Ciclismo.  Em conversa, com Mundo Bici, algumas horas após o final da etapa declarou que “Esse ano se comparada à edição do ano passado, foi bem mais difícil. No ano passado não tivemos tantos abandonos”. Também  comentou que o pelotão rodou com maior intensidade e que o verão europeu foi também mais um obstáculo : “O ritmo foi bem mais elevado, essas 3 últimas etapas foram muito duras, corremos sob muito calor. Foram etapas dignas de Tour de France, isso aqui é ciclismo de verdade”.

Em março Caio Godoy venceu o 56ª Prix de Bourg-en-Bresse foto: divulgação

Em março Caio Godoy venceu o 56ª Prix de Bourg-en-Bresse. “As três últimas etapas de l’Avenir foram dignas de Tour de France”   foto: divulgação

Caio entrou no Tour de l’Avenir após um mês e meio de ter fraturado a clavícula pela segunda vez nesta temporada, a primeira foi no mês de abril, com isso não conseguiu uma preparação ideal para uma volta tão dura: “Não pude correr algumas provas que serviriam de preparação. Esperava terminar entre os top 15, mas com essas etapas duras e vindo de uma recuperação após quebrar a clavícula  terminar em 22º tá bom, comentou sorrindo.

Na agenda do brasileiro o próximo programa é o campeonato mundial em Richmond, nos Estados Unidos com a prova de estrada sendo disputada no dia 25 de setembro. “Fico na Europa fazendo a preparação para o Mundial , acredito que vou chegar em boas condições, depois volto para o Brasil”, comentou o ciclista que participará pela quarta vez de um campeonato mundial, o segundo na categoria U23.

Com apenas 20 anos, Caio Godoy é uma grande promessa do ciclismo brasileiro, participou pela segunda vez do duríssimo Tour de l’Avenir e ainda tem condições de disputar mais duas edições, isso se não der um salto de qualidade e assinar por alguma equipe europeia. A temporada 2016 ainda não está definida, o estágio com a francesa Bretagne Séché Environnement, acabou não vingado por problemas com o visto de trabalho, apesar das tentativas de negociação da UCI.  Se o convênio com o Centro Mundial de Ciclismo for renovado pela UCI e a CBC  o jovem tem condições de dar continuidade à construção de sua carreira.  Condições técnicas não lhe faltam, concluir uma volta tão dura como esta edição do Tour de l’Avenir aonde largaram 126 ciclistas e apenas 77 chegaram ao fim, e terminar em 22º  é para se comemorar, basta verificar a realidade que se vive no país com muitas provas ainda sendo disputadas por tempo e com quilometragens que para muitos desses garotos não passariam de um treino.

 

7ª Etapa Saint-Michel-de-Maurienne>Les Bottieres

93,5 km – vel. Média 30,912 km/h

1-  Matvey Mamykin/Russia – 3h01m29″
2-  Jack Haig/Austália  m.t.
3-  Marc Soler/Espanha  a  12s
4-  Gregor Mühlberger/Áustria a 55s
5- Sam Oomen/Holanda a 55s

35- Caio Godoy/Brasil-CMC a 17m34s

Classificação Final após 965,9 km –  média de 38,682 km/h

1-  Marc Soler/Espanha  965,9 km en 24h58m14s
2-  Jack Haig/Austália a  01m09s
3-  Matvey Mamykin/Russia a 2m50s

4- Sam Oomen/Holanda a 3m18s

5- Simone Pettili/Italia a 3m2s

22- Caio Godoy/Brasil Centro Mundial de Ciclismo a 27m34s

Prêmio de Montanha: Matvey Mamykin/Russia

Classificação por Pontos: Jonas Koch/Alemanha

Classificação por Equipes: Russia

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