A TRAPAÇA CONTINUA: MOTORZINHOS EM GRANDES PROVAS ITALIANAS

O doping tecnológico desmascarado: o programa da TV Francesa Stade 2 e o jornal italiano Corriere della Sera  usaram câmeras térmicas para provar que no último mês de março na Strade Bianche e na Coppi & Bartali os motorzinhos estiveram ativos. A trapaça é a notícia deste domingo (17/04) em todo o mundo

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O jornalista italiano Marco Bonarrigo, do Corrieri della Sera, e o francês Thierry Vildary do programa Stade2 revelam que na Strade Biache e na Coppi & Bartali disputada em Riccione sete ciclistas usaram o doping tecnológico: os motorzinhos estavam escondidos nas bicicletas e o uso de câmeras térmicas disfarçadas como equipamento de filmagem da emissora publica France Télévision revelaram o trapaça e também entrevistaram o presidente da UCI, Brian Cookson.

A matéria completa irá ao ar no domingo à noite na tv francesa, e o jornal italiano em sua edição dominical deu um aperitivo do que será apresentado: sete bicicletas dopadas. Cinco com motores escondidos no movimento central; e  em outras duas as câmeras térmicas detectaram calor no cubo traseiro e nos pinhões/cassette que forneciam tração à bicicleta.

As imagens produzidas com as câmeras térmicas mostram sensível variação de temperatura  nos pontos indicados, e segundo os técnicos isso representam a utilização de motores que geram calor. Porém a tecnologia evoluiu, os motores instalados entre o tubo do selim e movimento central são de mais fácil detecção, porem os outros modelos tem tecnologia mais avançada e fornecem pontos de calor mais reduzidos, mesmo assim essa variação só pode ser conseguida com motores.

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As fontes dos jornalistas são as mesmas de sempre, mas com atenção especial para o engenheiro húngaro Istvan Varjas, que já tem uma nova versão do motor mais compacta (5 centímetros, contra os 20 dos primeiros modelos feitos por uma empresa austríaca)  e uma potência regulável que pode gerar até 250 watts seja no movimento central ou no conjunto cubo/cassete; segundo Varjas: “perfeitos para ciclistas com elevada cadência de pedalada”.

Hoje o sonho de muitos trapaceiros são as rodas de indução magnética, que Varjas apresentou aos jornalistas , montadas com placas magnéticas de neodímio escondidas em uma roda de carbono de perfil alto. Seu acionamento se dá por uma “ponte”, um imã espiralado impulsionado por uma bateria  escondido sob o selim quando posto em funcionamento ajuda a produzir cerda de  60 watts de potência, pode parecer pouco mas em uma subida dura ou em uma corrida difícil como a Strade Bianche essas rodas  que tem um custo de 50.000 euros  podem fazer uma grande diferença. Com esse preço elevado, elas também são para poucos. Essas rodas foram denunciadas no mês de fevereiro pelo jornal italiano Gazzetta dello Sport e segundo Varjas, não podem ser detectadas pelos controles se não se usa um detector de campo potentíssimo.

Ao que parece os jornalistas europeus seguiram à dica de Greg LeMond que em declarações à imprensa dizia que a UCI deveria de utilizar equipamentos de detecção de calor durante as corridas.

A utilização desta trapaça tecnológica vem se tornando publica desde 2010,  nas famosas arrancadas de Fabian Cancellara para vencer o Tour de Flandres e a Paris-Roubaix, porém sem comprovação alguma. Efetivamente foi só em dezembro de 2015 durante o Mundial de Ciclocross que o primeiro caso foi desmascarado, peixe pequeno a belga caiu em um controle da UCI utilizando uma declarada nova tecnologia instalada em tablets.

Os testes com os tablets da UCI são feitos com as bicicletas "paradas" - foto: Stephen Ferrand

Os testes com os tablets da UCI são feitos com as bicicletas “paradas”- foto: Stephen Ferrand

Porém esse sistema de detecção da UCI é questionado por Jean-Pierre Verdy, ex- diretor da Agencia Francesa Antidoping, que declara: “No último mês de julho chegaram informações super confiáveis da utilização dos motores no Tour, com nome e sobrenomes de ciclistas top. Advertimos a UCI: nenhuma resposta, nenhum controle”.

Para fazer os primeiros testes os jornalistas passaram pela oficina de Alessandro Bartoli, em Empoli, de onde semanalmente saem quatro ou mais bicicletas “envenenadas” com um motorzinho cilíndrico que gera 200 watts de potencia, por um preço inicial de 10 mil euros ( mais de  R$ 42 mil) ; com uma dessa bicicletas foram para a subida de San Baronto e rapidamente perceberam que com essa artimanha é possível qualquer ciclista mediano pode-se  transformar em um grande escalador, apesar desse modelo despejar muita potência sem modulação, o que seria facilmente percebido sem a utilização de equipamentos especiais de detecção.

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Durante a Strade Bianche os jornalistas e técnicos que produziram essa matéria de  investigação puderam constatar que havia alguma diferença entre as imagens feitas com uma bicicleta equipada com o motorzinho austríaco (da Gruber Assist) e os motores que os profissionais estão utilizando: as manchas de calor detectadas pelas câmeras térmicas produzem uma mancha de cor alaranjado mais claras, menos intensas e mais concentradas que aquelas produzidas para os amadores por Bartoli. Estas manchinhas se acendem nas subidas e que se apagam nas descidas.

A matéria publicada no jornal italiano, e que na noite deste domingo será apresentada na tevê francesa lança uma duvida sobre os equipamentos e softwares de detecção usados pela UCI – que negou a possibilidade de analise destes por parte da reportagem . Os comissários da UCI aparecem nas largadas com seus tablets para controlarem motores que estão desligados. Os equipamentos utilizados pela entidade máxima do ciclismo são conhecidos por teslametros (que detectam a radiação eletromagnética),  e foram testados pelos jornalistas e seus técnicos que concluíram que estes não são confiáveis pela natureza ilusória do campo magnético.

Foi com este tablet que a UCI na última Paris>Roubaix  verificou 196 bicicletas, mas segundo a matéria do Corriere della Sera, sem tocar em sequer uma bicicleta dos grandes nomes do pelotão, sem passar por rodas e quadros guardados nos carros das equipes, onde ficam “escondidas” as bicicletas piratas que deverão ser usadas no momento certo.

https://youtu.be/oM_4I-jYk_c

O ponto alto da matéria que será exibida pela tevê francesa, será a apresentação de imagens inéditas feitas durante a chegada da 18ª etapa do Giro d’Italia 2015 a Verbania, quando Alberto Contador vence a etapa superando a Fabio Aru.  Nada se comentou sobre o ocorrido, mas poucos minutos após a chegada os comissários da UCI fizeram um controles surpresa na bicicleta do espanhol, de olho em uma misteriosa troca de rodas no dia anterior.  A bicicleta recebeu um lacre e foi levada para trás do palco aonde se fez a premiação, nesse local a UCI tinha uma tenda aonde o acesso era restrito aos seus comissários e técnicos. As imagens mostram a estranha movimentação ao redor da roda do lendário Faustino Muñoz, mecânico de Contador, e ele olhando o relógio que levava no bolso. Uma segunda imagem, feita com uma câmera escondida mostra toda a sofisticação tecnológica para desvendar alguma  trapaça: a golpes de martelo, diante de um distraído inspetor, Muñoz desmontou o movimento central….Porém nenhum comissário se importou com a roda!

2 comentário em A TRAPAÇA CONTINUA: MOTORZINHOS EM GRANDES PROVAS ITALIANAS

  1. andre leme disse:

    Não imaginava o uso de motores no pelotão protour, não por eles serem “bonzinhos”, mas sim pelo fato de achar absurdo carregar peso extra. Porém uma coisa me colocava com o pé atrás, primeiro o motor pode servir de lastro para o peso mínimo, pois as bicicletas são bem mais leves que o mínimo obrigatório e agora com estas imagens, fica praticamente impossível não aceitar isto como fato. Vou assistir o moto GP.

    • George Panara disse:

      André estamos falando de tecnologia muito sofistica, são motores muito pequenos, e se trabalhar com pesos reduzidos de quadros e componentes e com ciclistas peso “leve” o peso extra nem se percebe

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