Poucas vezes no mundo das competições um desportista que acusa um positivo por doping se expõe. O usual é o esportista se calar, se fechar em seu mundo, dar tempo para ver se a tempestade passa. Após a revelação da sua reincidência por Eritropoietina, Alex Arseno publicou em sua página pessoal no Facebook mais do que um esclarecimento: uma explicação e a confissão do seu positivo que é um adeus público à sua carreira de ciclista.
Ao assumir o positivo Alex Areseno dá adeus à sua carreira esportiva
“Queridos Amigos,
Ao longo de 17 anos de carreira, entreguei-me com todo o meu ser a um esporte que nem sempre recompensa o esforço e desprendimento que a ele dedicamos. Iniciei no ciclismo aos 15 anos de idade e a magia das primeiras pedaladas, aquela sensação de percorrer o quarteirão de casa em alta velocidade, livre de tudo e de todos, haveria de dominar o meu futuro. Também jamais esquecerei a primeira competição, aos 16, e toda aquela carga de adrenalina sem igual; a imensa alegria mesmo ante o folego escasso, as pernas falhas e a primeira de muitas derrotas !
O que mais me capturou, contudo, foi a progressão única que esse esporte oferece a quem tem a paciência e a teimosia de suportar as suas condições. Assim, se começa percorrendo trinta quilômetros e logo se está a disputar com os melhores da nação ! Existe, nesse ínterim, tanta beleza e tantos sentimentos, que só posso me lembrar sorrindo e extremamente agradecido por te-los para sempre comigo em memória.
Vencer, então, é outro universo. O sabor de erguer os bracos, enquanto a bicicleta desfila só, atravessando a linha branca pintada sobre o asfalto , nas raríssimas oportunidades em que isso é possível, paga toda gota de suor que deixamos cair pelas estradas. Isso porque, sendo a derrota a regra absoluta do esporte, tanto mais doce e gloriosa é a sua exceção. Tenho 32 anos de idade, e, não tendo vivido tanto quanto muitos, ainda assim, estou convencido de que se cuida de uma das mais intensas experiências que o ser humano possa provar.
Mas esse texto não foi feito para ser de uma homenagem ao ciclismo, apesar da minha paixão contaminar, do começo ao fim, este depoimento. Antes, é uma despedida, um derradeiro adeus, com profunda dor e arrependimento.
Pela segunda vez em minha carreira recebo notificação oficial de que foi encontrada em mim Eritropoietina sintética – hormônio que aumenta no corpo a produção de glóbulos vermelhos, o que é vital para a resistência física – acusação que não nego. Ao contrário, aceito, resignado, e com imensa dor.
Não há, de fato, justificativa para a minha conduta além do desejo constante de ser competitivo e estar na altura dos meus principais rivais. Em um esporte onde o sofrimento está na raiz da vitória, e só essa pode continuar promovendo o sustento de sua família, por vezes se é coagido a recorrer a medidas extremas. Foi o meu grande erro, pelo qual estou disposto a enfrentar as consequências.
Assim, lamentavelmente , fecham-se as cortinas sobre minha carreira profissional. Retiro-me, arrependido, é certo. Contudo, fiz o que pude, com as informações que tive e sou fruto da época em que vivi. Honestamente, acredito na renovação do esporte de alto rendimento. Existe esperança e, eu, particularmente, gostaria de, em um futuro próximo, colaborar para que as gerações seguintes não precisem enfrentar os mesmos dilemas com os quais me deparei, ao longo de toda minha carreira, no seio do esporte profissional.
Retiro-me, por ora, ao conforto dos braços de minha esposa Camila e da companhia de meus familiares queridos para que possa refletir com calma sobre os meus erros e projetar com serenidade um rumo para meu futuro.
Fica aqui, meus amigos, a minha eterna paixão pelo ciclismo e, principalmente, permanecem indeléveis as memórias de companheirismo, de luta e sacrifício, vitórias e derrotas, que inevitavelmente acompanharam a minha trajetória, cujo final pode parecer, a principio, infeliz, mas que, todavia, carrega em si imensa alegria por tudo o que foi vivido.
Sinceramente,
Alex David Mayer Arseno”
Para todo aquele que pratica esporte vale a reflexão: até que ponto o doping vale a pena? Será que não seriam necessários mais controles? Muito tem se falado nos bastidores do ciclismo que o meio amador encontra-se em pior situação que o meio profissional, será que não é hora de a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem começar a controlar as Gran Fondos e as provas amadoras?
Além de um maior número de controles já é hora de se iniciar um trabalho de esclarecimento e educação para que os futuros esportistas não caiam nessa tentação da melhoria do desempenho por meios ilícitos, mesmo que para isso a consciência tranquila, a igualdade de condições para a competição e a ética sejam jogadas para baixo de um tapete. Que os últimos casos de positivos no ciclismo brasileiro sirvam de exemplo e provoquem uma verdadeira limpeza e uma nova ética no esporte. Quem sabe com isso não se inicie um novo tempo no esporte
14 comentário em SOBRE DOPING E A CORAGEM DE ASSUMIR OS RISCOS
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Gostaria muito que estes positivos servissem de exemplo e provocassem uma verdadeira limpeza com uma nova ética dentro do ciclismo nacional, mas infelizmente não acredito que isto aconteça. Ao menos para um futuro próximo. Talvez daqui a alguns anos isto possa acontecer. Mas para isto se tornar uma realidade, muitos controles ainda precisarão serem feitos, e, consequentemente, muitos positivos ainda serem detectados, pois o depoimento do Alex Arseno somente comprova o que todos do meio já sabiam …. o pelotão do ciclismo nacional está viciado (mesmo não sendo justo generalizar). Existem poucas equipes nacionais com uma estrutura razoável (salário, etc) e, para que um ciclista no Brasil consiga um emprego nestas poucas equipes existentes, se vêem forçados a utilizarem de meios ilícitos, pois caso contrário, não conseguirão acompanhar o ritmo dos ciclistas turbinados, muito menos conseguirem resultados de destaque. Na principal competição nacional – Campeonato Brasileiro – não houve controle. Todos sabem do benefício do Bolsa Atleta Nacional, e para o ciclista conseguir este benefício, deve se classificar entre os 3 primeiros colocados. Não acusando ninguém …. é fácil imaginar o que deve ter acontecido. Provavelmente irei receber críticas por esta colocação, mas chega de hipocrisia.
Enganar o próximo é uma coisa errada e ponto final.
Se existe o conhecimento de que utilizar medicamentos para melhorar o desempenho físico durante uma competição é ILEGAL – DOPING – então temos que aceitar isto e respeitar. PONTO FINAL.
Não existe outra maneira.
Temos sim é que combater mais firmemente o DOPING.
Mais controles.
Controles surpresa dentro do ciclismo nacional.
Vistorias em alojamentos.
Palestras com as equipes nacionais que trabalham com as categorias de base.
Qualificar os técnicos nacionais e todos que trabalham no meio.
A declaração do Alex Arseno foi corajosa e merece reconhecimento.
Que ele consiga se redimir, trabalhando contra o DOPING a partir de agora em diante, pois ele conhece todos os bastidores deste mundo sujo (onde conseguir, como utilizar, etc).
Acredito que ele pode ser utilizado em palestras para os jovens ciclistas nas diversas escolinhas que existem no Brasil, dando o testemunho do quanto o doping é ERRADO.
Claro que para isto acontecer, ele deve querer e estar convencido verdadeiramente disto.
Parabéns pelo texto. Vindo de gente que respira o ciclismo ficaria feliz se mais pessoas entendessem a sua mensagem e tomassem este posicionamento em favor do esporte.
Um texto sincero e profundo. Mas não me parece que o “atleta” (em sua homenagem, Panara…rs) esteja arrependido. Pelo contrário, aparentemente entende como atitude correta, não do ponto de vista da regra, mas pela necessidade de sobreviver no meio de alto rendimento. Tem um lado bonito no texto e em assumir o processo, que finaliza a própria carreira, não porque o ciclista tem arrependimento, mas porque seria banido do esporte, mesmo, pela recorrência no uso de substância proibida.
Acho que vc não conhece o Alex. Mas ele esta arrependido sim. E sofrendo bastante com tudo isso pois como ele diz no depoimento foi boa parte da vida dedicada a esse esporte. Só penso q as pessoas deveriam conhecer melhor as pessoas antes de falar sem embasamento. Por simples achismo. Doping é uma triste realidade no ciclismo nacional e esta infestado principalmente por amadores.
Alex David Mayer Arseno, primeiramente parabéns pela coragem e lucidez que tomou após ser positivo no teste de dopping. Em segundo lugar acho que tem razão ao propor que é preciso estimular ao nosso esporte desde o amador que se repense esse complexo mundo de desempenho ao qual os fabricantes de produtos de dopping. E por último, as entidades de classe do esporte amador e profissional precisam buscar um estado de ética total.
Muitos testes deveriam ser feitos. Só com muito controle e com vários positivos e com o claro posicionamento de que não haverá espaço para quem burlar as regras é que teremos um esporte limpo e que a ética estará em primeiro lugar
Tudo muito lindo!!! Textos…expressões muito bem colocadas….mais…no entanto…nada eficaz!!! Porque não começamos com mais atitudes e menos palavras? porque nao temos nehum represe tante da CBC defendendo o cilismo brasileiro aqui? Véspera de uma olimpíada…em um ano de seletiva olímpica… e o campeonato brasileiro sem exames de controle anti doping!?
So para relembrar um pequeno detalhe… recentemente alguns campeões brasileiros perderam seus títulos…e logo em seguida….temos um campeonato brasileiro sem exames!!! Resumindo….não acredito que o Brasil tenha realmente vontade em mudar esse quadro. E cadê? os colegas ciclistas que gostariam de ver essa mudanca? não vão se manifestar? E os dirigentes da equipes não vão se pronunciar em busca de melhores condições para seus atletas? E os nossos atletas campeões…. vão se calar? Porque todos nós não lutamos por esse ideal? De um ciclismo justo e com controle? Aí sim….quando eu ver os campeões… aqui….sem medo de se expor e denunciando as péssimas condições em que sobrevive o ciclismo brasileiro…. aí sim…aí eu passo acreditar e ter esperança que algo pude mudar!!!!
Alguém tem que publicar as notícias Raquel. A eficácia está no controle e como estamos em período olímpico a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem começou a trabalhar. Dois desses últimos casos foram frutos desse trabalho. Mas você colocou uma coisa importante> quando os ciclistas se pronunciarão e denunciarão os problemas do esporte?
É lógico que queremos o esporte limpo,
Mas não podemos esquecer que o doping é apenas um dos sintomas da doença maior que acomete o esporte mundial,
Fico pensando, porque expor tanto um atleta ao ser pego em doping?
Parece propaganda da hipocrisia,
Resposta: Não fazemos nada para melhorar o ciclismo mas punimos os que não são éticos!
Quanto ao ciclismo a coisa é ainda pior,
Pois não existe uma preparação no início de tudo alertando os juniores sobre a questão ética e de saúde sobre as drogas de ganho de perfomance,
Todo ano pegamos no pé da CBC para fazerem controle no Campeonato Brasileiro de junior e nada é feito,
O doping é mais que um assunto de ética e sim político financeiro, quem está nesse esporte por muito tempo sabe que nomes não são sorteamos e sim apontados para os exames quando os tem em provas,
Todos os mais experientes sabemos de histórias de coletas de material que são jogadas no lixo,
Não adianta punir! Tem que capacitar o jovem ciclista para que ele não seja forçado a parar o ciclismo prematuramente ou que morra em cima de uma bike.
me desculpem,mas de 100% dos ciclistas,aposto que 90% uso algo diferente,como podem seres humanos andarem em medias mirabolantes,ciclistas de 30 a 50 anos com medias altissimas,normal nao é,e se fossem diferenciados teriam feito parte dos grandes nomes do ciclismo mundial,e 99% nao foram,na europa a coisa é pior anda,mas vamos levando a vida,e atire a primeira pedra quem nunca usou algo diferente.
Tem muita gente que prefere não subir ao pódio, sofrer na montanha ou perder um sprint do que consumir alguma substância proibida para melhorar a performance.
Já tive o prazer de te ver correr,com minha bike ao lado após o encerramento da minha prova, já tive o prazer de largar no mesmo pelotão sabendo qua as capacidade de vence-lo seria remotas, pois não era um atleta profissional mais buscava ser o meu melhor, sei o quanto o podium nos atrai mesmo sendo amadores e sei q1ue a partir do momento que profissionalizamos as responsabilidades aumentam, não tive essa sorte de profissionalizar, alias a desperdicei quando a tive,creio que tudo tem um propósito, creio que “as cortinas se fechando” assim como você falou Arseno sejam as novas que estão para se abrir com muitas experiências do que viveu, não fui um atleta renomado tive meus dias de gloria como todo atleta dedicado tem os seus, me espelhei em atletas como vc como o Betinho, Eriberto ,cara que me ensinaram muito em copas norte nordeste, já recebi propostas também de outros assim com um dia recebeu a sua, os julgamentos virão brother, a realidade você que passou e sabe os principais motivos por que tudo aconteceu, o arrependimento transforma tudo em novo nada melhor que um arrependimento após os erros, um degrau você conseguiu subir após a se arrepender, e eira lutar para combater tais erros, te desejo toda sorte do mundo o Senhor te abençoe, continuo sendo o seu fã,meus parabéns pelo reconhecimento do erro são poucos os seres humano que reconhece que errou, uma grade virtude no ser humano é reconhecer que está errado assim ele ira buscar fazer o correto. Nunca esquecerei das corridas que o vi correr e e da que tive o prazer de larga ao teu lado mesmo sendo um desconhecido seu.
Esse vagabundo teve a chance de se redmir e continuou a se dopar, desonesto, mal caráter, desleal agora ,pego a segunda vez que da um de bonzinho, toma vergonha na cara, quer ser honesto tanto VC como os outros devolve as premiações que ganhou desonestamente.
Agente ve a melhora muito rápida de ciclista que então eram pésssimos em subidas que não teriam como subir nem lento e de um ano pro outro ele te dá uma surra nas montanhas e ainda voam em umas cronos.Tem que fazer como fizeram com o Danilo Di Lucca está expulso por vida nem mesmo pra assisitir as Corridas.